São Paulo (EFE). – O Brasil, líder mundial na produção e exportação de café, aposta na qualidade e na sustentabilidade do seu grão para continuar a aumentar as vendas ao exterior, e também para conquistar o promissor mercado da China, que já conta com mais de 300 milhões de consumidores.
De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), entre os diferenciais do produto brasileiro, que compete principalmente com Vietnã, Colômbia, Alemanha, Honduras e Etiópia, estão a credibilidade e a pontualidade na entrega, além da variedade e capacidade produtiva e tecnológica.
Diante do crescimento do consumo e das vantagens que oferece, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) estima que o mercado chinês pode oferecer aos produtores nacionais um potencial anual de geração de negócios de US$ 886 milhões, considerando café verde e torrado.
Sustentabilidade e valor
Para seguir crescendo em um mercado global cada vez mais preocupado pela conservação do meio ambiente, um dos principais atrativos é a produção sustentável, segmento no qual o Brasil também é líder mundial, segundo a Plataforma Global do Café.
De acordo com dados do Cecafé, os chamados “cafés diferenciados”, que possuem qualidade superior ou certificações de práticas sustentáveis, representaram 18,1% das exportações totais brasileiras em 2024, com um crescimento de 31,2% em comparação com 2023.
“Buscamos conectar a sustentabilidade, a cafeicultura regenerativa e o aspecto social do café às novas regras de mercado, com monitoramento (da produção) e transparência”, afirmou o diretor-geral do Cecafé, Marcos Matos, em entrevista à Agência EFE.
Matos acrescentou que o cultivo de café é uma atividade que consome mais carbono do que produz, e que os resultados são ainda melhores quando os produtores implementam práticas sustentáveis.
Segundo ele, boa parte dos cafeicultores desmata menos do que a meta estabelecida por lei, o que faz com que as regiões produtoras de café do Brasil possuam uma área preservada equivalente a 1,25 vezes o tamanho da Suíça.
Além disso, no quesito sustentabilidade, cabe destacar o papel do café da Amazônia, que tem migrado para um modelo de cultivo tecnológico e sustentável, gerando renda para mais de 17.000 famílias, segundo o gerente de Agronegócios da ApexBrasil, Laudemir Muller.
“É um produto compatível com a floresta, que permite, em áreas degradadas, uma produção com rastreabilidade, sustentabilidade e que gera renda e satisfação para todos os produtores locais”, acrescentou Muller.
Nesse sentido, Matos afirmou que o fato de o café brasileiro ser “diverso, de qualidade, sustentável, respeita os direitos humanos e possui condições adequadas”, agrega valor ao produto e serve também para sensibilizar e gerar uma conexão com os consumidores de todo o mundo.
O promissor mercado chinês
Os Estados Unidos e a Alemanha foram os principais compradores do café brasileiro, que alcançou a marca recorde de 50 milhões de sacas de 60 kg em 2024.
Embora a China tenha aparecido apenas na 14ª posição, com 939.087 sacas, o Brasil já é seu principal fornecedor e aposta, principalmente, no mercado de café verde.
Segundo a ApexBrasil, este segmento oferece oportunidades de mercado de manutenção de cerca de US$ 503,8 milhões ao ano para o produto brasileiro.
Por isso, a China é um mercado prioritário para o projeto “Brazil, the Coffee Nation”, que busca fortalecer a imagem do país como “nação do café” no mercado internacional e criar oportunidades de negócios.
A iniciativa é desenvolvida pela ApexBrasil e pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), que representa um produto da mais alta qualidade e sustentável, que vem ganhando cada vez mais espaço no mercado nacional e internacional, e que já é muito popular na Ásia.
Abertura e modernidade
Na China, o consumo de café é recente, predominante entre jovens de maior nível educacional, e está associado a “status”, a um estilo de vida “moderno e cosmopolita”, resultante da abertura econômica do país, que introduziu hábitos ocidentais, segundo explicou à EFE o diretor de conteúdo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), Túlio Cariello.
Para conquistar esse público, grandes redes chinesas e estrangeiras investem em inovação e sabores populares, criando bebidas que misturam café com ingredientes como água de coco e laranja.
Com perfis sensoriais diversos, com destaque para os florais e fermentados, que lembram os chás amplamente consumidos no país, o café especial também está ganhando espaço, disse à EFE o diretor-executivo da BSCA, Vinicius Estrela.
Segundo Estrela, o café especial brasileiro, que domina 40% do mercado internacional, também “tem a função de romper barreiras, gerar uma nova percepção e atrair novos consumidores”.
“O consumidor chinês está experimentando esses cafés e os está descobrindo. É fácil fazer a transição do chá para o café, pois são bebidas com sensações semelhantes”, acrescentou Estrela.
Acordo milionário
Um dos sinais da tendência de crescimento do mercado chinês é o acordo com a rede local de cafeterias Luckin Coffee, articulado pela ApexBrasil e pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Assinado em 2024, o acordo prevê a compra de 240.000 toneladas de café entre 2025 e 2029, em um valor recorde estimado em US$ 2,5 bilhões.
“Eles têm a visão de que o consumo continuará crescendo e, para garantir o fornecimento, é essencial uma proximidade com a maior fonte, que é o Brasil”, comentou Matos.
Por sua vez, Estrela acrescentou que estabelecer uma relação sólida com os produtores brasileiros reduz a exposição da empresa às oscilações de preços na bolsa de valores.
“Construir essa relação com o mercado brasileiro é estratégico para o crescimento e a internacionalização da Luckin Coffee e, para nós, essa via de mão dupla é muito positiva”, acrescentou.
Segundo o executivo da BSCA, o reconhecimento do café brasileiro no mercado internacional é importante para o aumento das exportações, mas também para que o produto seja mais valorizado no mercado interno.
“Meu sonho é que os brasileiros possam se reconectar e sentir orgulho do café que produzimos, e este é um caminho importante para isso”, concluiu Estrela. EFE