Jenni Hermoso (e) deixa o tribunal após depor nesta segunda-feira, na cidade de San Fernando de Henares, na Espanha. EFE/Fernando Villar

Jenni Hermoso depõe no tribunal e critica beijo forçado de ex-presidente da RFEF

Madri (EFE).- A jogadora da seleção espanhola Jenni Hermoso explicou, nesta segunda-feira, que se sentiu violada e “desrespeitada” assim que recebeu um beijo na boca, sem consentimento, do ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) Luis Rubiales após vencer a Copa do Mundo Feminina e garantiu que não ouviu que ele lhe pediu “um beijinho”, como ele afirma, mas se tivesse ouvido também não teria concordado.

“Não o aprovei”, disse a jogadora que defende o Tigres-MEX, na primeira sessão do julgamento que acontece hoje na Audiência Nacional contra Rubiales e três antigos dirigentes da RFEF pelo beijo sem consentimento e a pressão a que ela alega ter sido submetida para justificá-lo.

Aquele beijo que Rubiales lhe após o título espanhol da Copa do Mundo na Austrália, em 20 de agosto de 2023, mudou sua vida “desde o primeiro momento” e não a deixou aproveitar o triunfo como gostaria, lamentou a jogadora, que disse sentir que desde então sua vida parece ter sido colocada em “stand by”.

“Sabia que meu chefe estava me beijando e isso não acontece nem deve acontecer em nenhum ambiente de trabalho ou social”, denunciou Jenni Hermoso, confessando que se sente aliviada por atualmente jogar no futebol mexicano devido à pressão midiática que sofreu em Madri após aquele episódio.

Em resposta às perguntas da procuradora-adjunta, Marta Durántez, ela sustentou que “desde o início” queria denunciar esses fatos, antes mesmo de comparecer ao Ministério Público, e negou ter se sentido coagida a fazê-lo.

No início do interrogatório, Durántez, que foi quem a interrogou quando o Ministério Público propôs uma ação, tentou dissipar dúvidas sobre essa primeira declaração, e Jenni Hermoso chegou a reconhecer que ela a advertiu sobre as consequências negativas que uma denúncia poderia ter. “Eu levei isso adiante”, acrescentou.

Jenni Hermoso afirmou repetidamente que não consentiu nem aprovou aquele beijo e relatou a pressão que ela e sua família sofreram dos outros três acusados: o ex-diretor esportivo da equipe masculina Albert Luque, o ex-técnico da equipe feminina Jorge Vilda e o ex-chefe de Marketing da RFEF Rubén Rivera.

A jogadora contou que, durante a saudação às autoridades após a vitória no Mundial, depois de cumprimentar a rainha Letícia e a infanta Sofia, ela foi até Rubiales e se abraçaram. “Que bagunça nós fizemos”, disse ela; e ele pulou tão forte que colocou as pernas “quase na minha cintura” enquanto dizia a ela “sem você não teríamos conseguido”.

“A próxima coisa foram as mãos dele nas minhas orelhas e em seguida o beijo”, disse.

Em nenhum momento – reiterou – ouviu Rubiales perguntar-lhe se poderia dar-lhe “um beijinho”, como ele afirma; e se ele tivesse ouvido, enfatizou, não teria concordado.

“Quando ele colocou as mãos nos meus ouvidos, a próxima coisa que ele fez foi me beijar na boca”, disse Hermoso.

“Eu me senti desrespeitada. Foi um momento que contaminou um dos dias mais felizes da minha vida e em nenhum momento eu busquei esse ato ou esperei por ele”, completou.

Apesar disso, explicou que era “super importante” para ela comemorar essa vitória, e garantiu que nunca expressou seu consentimento para o beijo, nem em entrevistas nem em conversas com suas companheiras: “Minha atitude, como eu sou, não tira o que sinto. Não preciso chorar no meu quarto ou ficar deitada no chão durante o ato”.

Pressões para justificar atitude de Rubiales

Após relatar o episódio do beijo, Jenni Hermoso detalhou a pressão que sofreu desde o momento em que entrou no vestiário após a partida, no avião de volta para a Espanha e durante a viagem para Ibiza que algumas das jogadoras aproveitaram.

“Inúmeras vezes” lhe pediram para fazer uma declaração ou um vídeo com Rubiales tentando justificar seu comportamento, inclusive o próprio ex-presidente, que durante a escala em Doha pediu que ele o fizesse por suas “filhas” e até lhe disse algo que a jogadora confessou que a magoou: “você e eu gostamos da mesma coisa”.

Após a tentativa de Rubiales, de acordo com Jenni Hermoso, seu então treinador, Jorge Vilda, tentou convencê-la e até mesmo seu irmão, e chegou a sugerir que a “compensaria”.

Eles foram, segundo ela, “bastante insistentes” em tentar convencê-la, mas o que ela não recebeu da RFEF, segundo ela, foi nenhum gesto para saber como estava se sentindo ou do que estava precisando: “Eu me senti completamente desprotegida por parte da RFEF, tinha que ser meu lugar seguro”.

“Eu não conseguia aproveitar o fato de ser campeã mundial”, lamentou. EFE