Teerã (EFE).- O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, afirmou nesta quinta-feira em Teerã que o Irã e os Estados Unidos “não têm muito tempo” para chegar a um acordo sobre o programa nuclear iraniano, que, se alcançado, deverá ser verificado pelo organismo das Nações Unidas.
“Estamos em um estágio crucial nessas importantes negociações. Sabemos que não temos muito tempo, e é por isso que estou aqui para facilitar esse processo”, disse Grossi em uma coletiva de imprensa após sua reunião com o chefe da Agência de Energia Atômica do Irã (AEA), Mohamed Eslami.
O Irã e os Estados Unidos realizaram uma primeira rodada de negociações na semana ada buscando um acordo sobre o programa nuclear iraniano em Omã e se reunirão novamente neste sábado em Roma, com diplomatas omanenses como intermediários.
O chefe da agência nuclear da ONU declarou que também está “em contato com o negociador americano para ver como a agência pode servir como uma ponte entre o Irã e os Estados Unidos e ajudar a alcançar um resultado positivo nas negociações”.
Grossi indicou que “para que um acordo seja válido, deve ser acompanhado de verificação da agência”.
O diplomata argentino chegou a Teerã na tarde de quarta-feira e se encontrou com o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araqchi, negociador nas conversas com o enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff.
Após a reunião, Araqchi declarou que a AIEA deve deixar de lado a “politização” e se concentrar em questões técnicas, e advertiu que as negociações com os EUA ainda podem “sair dos trilhos”.
A AIEA tem várias questões em aberto com o Irã, incluindo seu rápido enriquecimento de urânio a 60%, próximo aos 90% necessários para uma bomba atômica, e o o limitado de seus inspetores ao país.
A agência da ONU também tenta há anos esclarecer a origem de traços não naturais de urânio detectados em três locais que o Irã nunca declarou como parte de seu programa atômico.
O Irã, por sua vez, acusou a agência de supostamente politizar seu programa nuclear nos últimos anos.
O país persa possui agora 8.294 quilos de urânio, dos quais 274 quilos têm pureza de 60%, bem acima dos limites do pacto nuclear de 2015, que eram de 300 quilos de urânio a um máximo de 3,67%, de acordo com dados da AIEA.
O acordo de 2015, assinado entre o Irã e seis potências, limitou o programa nuclear iraniano em troca do levantamento das sanções, mas o presidente dos EUA na época, Donald Trump, o abandonou unilateralmente em 2018.
Diferenças entre Teerã e Washington
O Irã e os Estados Unidos classificaram as negociações da semana ada como “construtivas”, mas os dois lados continuam divididos até mesmo sobre o que deve ser negociado.
O Irã só pretende falar sobre suas capacidades nucleares, fechando a porta para desmantelá-las ou discutir seu programa de mísseis ou seu apoio a grupos regionais como os houthis no Iêmen ou o Hezbollah.
Por sua vez, Washington insiste que o Irã deve interromper e eliminar seu programa de enriquecimento e armamento nuclear, e também falou em incluir o poderoso programa de mísseis balísticos do Irã nas negociações. EFE