Buenos Aires (EFE).- A gastronomia argentina está se consolidando como um dos pilares mais vibrantes da identidade cultural e turística do país, e vem reafirmando seu lugar de destaque no cenário internacional com tradição, sustentabilidade e inovação desde a recente inclusão de novos restaurantes no Guia Michelin 2025
Dos Andes ao Atlântico: a nova era da culinária argentina
Das hortas andinas de Mendoza aos sabores do mar de Buenos Aires, a culinária local vive um novo momento, liderado por chefs que contam histórias do território por meio de ingredientes sazonais e técnicas autorais.
Quatro restaurantes premiados com estrelas Michelin personificam essa visão e oferecem experiências únicas que já conquistaram paladares ao redor do mundo.
Do campo à mesa: Mendoza e sua vocação ambiental
No coração vitivinícola do país, o Riccitelli Bistró conquistou neste ano uma estrela com uma proposta que alia biodiversidade, pesquisa e compromisso ambiental. O chef, Juan Ventureyra, define seu estilo como uma “cozinha local”, baseada na produção de vegetais de sua própria fazenda.
Nesse terreno de sete hectares, são cultivadas mais de 400 variedades de vegetais, entre elas 92 tipos diferentes de tomates, seu “ingrediente estrela”.
“Nosso menu começa com uma degustação de tomates. Queremos que as pessoas percebam as diferenças de acidez, doçura e textura que a nossa terra oferece”, explicou o chef.
A apenas 50 metros do restaurante, são produzidos os vinhos da vinícola Riccitelli, com uma abordagem enológica tão precisa quanto sustentável.
Na mesma província, o restaurante Angélica Cocina Maestra, que também foi contemplado com uma estrela em 2025, é liderador pelos chefs, Josefina Diana e Juan Manuel Feijoo, que trabalham com uma cozinha orgulhosamente mendocina, baseada em ingredientes de hortas locais, canais de irrigação e até flores silvestres.
“Foi um trabalho de formiguinha. Desde que chegamos a Mendoza, assumimos o compromisso de trabalhar exclusivamente com produtos da região”, contou Diana, que destacou o desejo de “contar histórias da terra, do povo, da cultura” por meio dos pratos.
O menu é pensado para harmonizar com vinhos. Entre os pratos emblemáticos está o timo com molho de vinho branco, beterraba e especiarias, harmonizado com um exclusivo Chardonnay do vinhedo Adrianna.
“Queremos que as pessoas conheçam Mendoza a partir da cadeira em que se sentam, e que se sintam em casa”, acrescentou Diana.
Buenos Aires: mar, identidade e excelência
A capital argentina também brilha com duas propostas premiadas e bem diferentes das de Mendoza.
O Crizia, que já havia sido reconhecido por sua abordagem sustentável, recebeu neste ano sua primeira estrela Michelin.
Comandado pelo chef Gabriel Oggero, o estabelecimento chama atenção pelo aproveitamento integral dos ingredientes e pela parceria com produtores comprometidos com o meio ambiente.
Seu menu “Puro Mar”, com sete etapas, propõe uma imersão em sabores vindos do oceano, como ostras, frutos do mar e peixes.
“Estamos há 20 anos tentando transmitir um conceito sólido, com equilíbrio e seriedade. Trabalhamos diretamente com produtores, fazemos uma curadoria rigorosa, cuidamos da adega e buscamos oferecer uma experiência completa”, detalhou Oggero.
O restaurante oferece, ainda, opções que combinam vegetais da estação com carnes selecionadas, sempre harmonizadas com vinhos de diferentes terroirs do país.
Também na capital, está localizado o Aramburu, único restaurante do país com duas estrelas Michelin. Seu chef, Gonzalo Aramburu, lidera uma proposta de 18 etapas em que cada prato é “uma celebração da culinária argentina”.
“Cada criação busca surpreender e encantar. Essa coerência e dedicação em cada detalhe foram reconhecidas pelo Guia Michelin”, comemorou o chef, que já tem como objetivo conquistar a terceira estrela.
“Seria a realização de um sonho, e continuaremos trabalhando com a mesma dedicação para alcançar esse objetivo”, afirmou.
Turismo gastronômico em ascensão
A inclusão desses restaurantes no prestigiado guia francês não apenas valoriza a culinária argentina, como também posiciona o país latino-americano como um destino gastronômico de renome internacional.
Nos últimos anos, a Argentina vem fortalecendo sua proposta integrada, que vai dos tradicionais “bodegones” – que servem comida caseira em porções generosas e a preços íveis, misturando pratos típicos argentinos como milanesa à napolitana e empanadas, com influências italianas e espanholas – às experiências de alta gastronomia de vanguarda.
Com isso, a culinária argentina tem se transformado em uma linguagem capaz de atravessar geografias e conectar gerações — entre fogões, hortas, mares e montanhas. EFE